Comemorado anualmente, desde 1963, o Dia da África remete-nos a recordações da luta pela independência do continente africano contra a colonização europeia e contra o regime do Apartheid, assim como o enaltecimento de todas as figuras históricas e anônimas que sacrificaram suas vidas durante os vários períodos da história africana, cujos ensinamentos continuam atuais, sagazes, profundos para a afirmação dos valores da identidade dos africanos, como a rainha Amina, rainha Makeda, rainha Nzinga Mbandi, rei Shaka, Sua Majestade Menelik II, rei Mandume e o fundador do Império, Mali Sundiata Keita.
É de realçar que, nesta data, celebramos a trajetória de figuras africanas que têm inspirado os mais jovens africanos, como Cheikh Anta Diop; Kwame Nkrumah, ex-presidente do Gana; Severino Ngoenha; Alexis Kagame; o senegalês Léopold Senghor; Julius Nyerere, da Tanzânia; o burquinense Thomas Sankara; o congolês Jean-Bosco Kakozi Kashindi; Nelson Mandela, prestigiado ex-presidente da África do Sul, e Agostinho Neto.
Embora a história da escravidão tenha deixado marcas de violência e discriminação — desde o século XV —, a qual é difícil de ser apagada até hoje, sendo o mais longo processo de imigração forçada da história humana, esses nomes transformaram o dia 25 de maio num símbolo do desejo de um continente mais unido, organizado, desenvolvido e livre, num mundo de mudanças antropológico-culturais abismais refletidas no modus vivendi, no modus essendi e no modus operandi das sociedades.
Por isso, a data é celebrada de forma orgulhosa em vários países africanos e pelos africanos espalhados pelo mundo, afinal, a imensa riqueza cultural, simbólica e tecnológica, subtraída de forma violenta do continente berço da humanidade, criou condições para o desenvolvimento de sociedades, em que elementos europeus, africanos, das populações originárias e, posteriormente, de outras regiões do mundo se combinassem de formas distintas e complexas.
Não tenho dúvidas de que a classe acadêmica tem homenageado esses nomes e considerado o papel civilizatório que os negros vindos da África desempenharam na formação da sociedade brasileira. Porém, embora poucos da classe política afirmem em seus discursos políticos o interesse em reconhecer por meio de ações concretas, na prática não temos notado avanços notáveis, o que é preocupante, mesmo com os altos estudos acadêmicos e as várias fontes de acesso público para avaliar esse complexo e necessário processo, considerando inclusive o ponto de vista dos africanos que, de forma direta ou indireta, têm de alguma maneira contribuído na formação e informação do conhecimento distorcido sobre a África.
Portanto, como escritor, palestrante internacional em questões africanas, produtor cultural, apelo, por meio do Projeto Literáfrica, para a necessidade de o Brasil e o mundo repensarem o papel do continente africano no atual contexto.
As conquistas que precisam ser ampliadas e consolidadas, sem deixarmos de fora a evolução histórica dos povos africanos em sua relação com os outros povos, e, por meio da arte, cultura e empreendedorismo, promover a riqueza cultural e vivências africanas para o Brasil e o mundo.
É imperativo o incentivo de projetos e parcerias que promovam a arte e as vivências africanas no Brasil e no mundo, fundamentais para a compreensão das sociedades e culturas africanas, ampliando o conhecimento sobre a diversidade cultural do continente berço da humanidade.
Assim como também é imperativo, para cada estado africano, repensar as suas políticas sociais, econômicas e culturais, tornando-as exequíveis e realistas, e tendo como visão a afirmação dos valores morais, cívicos e culturais de todos africanos, que é um sentimento que emana de todas as grandes figuras que inspiram a nossa África em direção a uma nova forma de estar, num novo tempo e espaço.
João Canda
Escritor Angolano, palestrante internacional,
produtor cultural, editor, fundador e CEO da Literáfrica.
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